rasgo
Quando entrei em casa, a mala com rodas que tínhamos comprado para a
viagem de lua-de-mel estava à porta, ao lado das caixas empilhadas com
os meus sapatos. Em frente ao fogão, serena depois da discussão do dia
anterior, mexia o vazio que havia entre os dois.
podes vir buscar o resto no fim-de-semana ou quando te der mais jeito.
Sai sem abrir a boca, arrastando a mala e o orgulho até à garagem onde minutos antes estacionara. Atirei com tudo para a bagageira e esvaziei duas garrafas antes de adormecer num quarto frio de hotel com três estrelas. Foram precisos vários dias para entender que não havia como voltar atrás.
Sem prever que Urano atravessava a casa dez impelindo a mudança, saí para a manhã de geada abotoado até ao queixo, mas com a atitude de forcado enfrentando o dia de mão na ilharga. Ilharga, gosto desta palavra, da dificuldade com que a pronuncio, enrolada a língua no tecto da boca… adiante. A cara enregelada embrutecida pelo clima, sacudiu o gelo num sorriso assim que avistou no caminho a bela, mas antes sonsa Inês, atrasada de pastas espalhadas pelo passeio, maldizendo para o mundo o dia que começava azedo!
oh só me faltavas tu… Mau-tempo!
bom dia para ti também!
não te esforces, o dia não começou da melhor maneira… e estou atrasada!
o que tu queres sei eu… atiraste com as pastas de propósito só para meteres conversa comigo…
Ela sorriu, e agachados junto ao chão beijou-me o rosto acrescentando um doce bom dia Manuel! Mas depressa a felicidade me abandonou, a música de fundo abafada pelo som da ganga rasgada, oh desgraça lá se vai o meu único par de calças lavadas!
boxers azuis… gosto!
não tem piada! pára de olhar…
provocas uma situação ainda mais constrangedora para que eu esqueça a minha… és um querido!
a culpa é tua…
ninguém te ordenou cavaleiro, podias ter atravessado para o outro passeio e fazias de conta que não me conhecias, deixando-me a resmungar sozinha…
e perdia a oportunidade de mostrar como sou gentil e prestável…
a única coisa que posso fazer é mais logo levar-te ao centro para comprares umas calças… já só te restam dois pares e provavelmente estão para lavar.
tenho mais calças… nã preciso de comprar mais calças, que mania!
tens umas beges que te apertam, ficam-te bem mas raramente andas com elas… tens outro par de ganga… e as de sarja verde tropa, as que menos gosto.
como é que sabes que calças é que tenho?
consegues estar aqui às sete?
Estranhamente não atirou com a roupa pela janela como se vê nos filmes, nem atolou a mala de vagas tempestuosas enroladas, desocupando numa maré o roupeiro. Quando o efeito da bebida passou, descobri contido numa mala um mar pacífico de camisas e calças engomadas, meias casadas e dobradas.
podes vir buscar o resto no fim-de-semana ou quando te der mais jeito.
Sai sem abrir a boca, arrastando a mala e o orgulho até à garagem onde minutos antes estacionara. Atirei com tudo para a bagageira e esvaziei duas garrafas antes de adormecer num quarto frio de hotel com três estrelas. Foram precisos vários dias para entender que não havia como voltar atrás.
Sem prever que Urano atravessava a casa dez impelindo a mudança, saí para a manhã de geada abotoado até ao queixo, mas com a atitude de forcado enfrentando o dia de mão na ilharga. Ilharga, gosto desta palavra, da dificuldade com que a pronuncio, enrolada a língua no tecto da boca… adiante. A cara enregelada embrutecida pelo clima, sacudiu o gelo num sorriso assim que avistou no caminho a bela, mas antes sonsa Inês, atrasada de pastas espalhadas pelo passeio, maldizendo para o mundo o dia que começava azedo!
oh só me faltavas tu… Mau-tempo!
bom dia para ti também!
não te esforces, o dia não começou da melhor maneira… e estou atrasada!
o que tu queres sei eu… atiraste com as pastas de propósito só para meteres conversa comigo…
Ela sorriu, e agachados junto ao chão beijou-me o rosto acrescentando um doce bom dia Manuel! Mas depressa a felicidade me abandonou, a música de fundo abafada pelo som da ganga rasgada, oh desgraça lá se vai o meu único par de calças lavadas!
boxers azuis… gosto!
não tem piada! pára de olhar…
provocas uma situação ainda mais constrangedora para que eu esqueça a minha… és um querido!
a culpa é tua…
ninguém te ordenou cavaleiro, podias ter atravessado para o outro passeio e fazias de conta que não me conhecias, deixando-me a resmungar sozinha…
e perdia a oportunidade de mostrar como sou gentil e prestável…
a única coisa que posso fazer é mais logo levar-te ao centro para comprares umas calças… já só te restam dois pares e provavelmente estão para lavar.
tenho mais calças… nã preciso de comprar mais calças, que mania!
tens umas beges que te apertam, ficam-te bem mas raramente andas com elas… tens outro par de ganga… e as de sarja verde tropa, as que menos gosto.
como é que sabes que calças é que tenho?
consegues estar aqui às sete?
Estranhamente não atirou com a roupa pela janela como se vê nos filmes, nem atolou a mala de vagas tempestuosas enroladas, desocupando numa maré o roupeiro. Quando o efeito da bebida passou, descobri contido numa mala um mar pacífico de camisas e calças engomadas, meias casadas e dobradas.
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