corda

Quatro toalhas amarelas a secar na corda, todas presas por molas iguais dispostas por ordem decrescente da esquerda para a direita. Sempre me questionei porquê que as mulheres usam o dobro das tolhas dos homens, quatro toalhas na corda dela, duas apenas na minha… já confirmei que vive sozinha, que ninguém dorme ocasionalmente na metade da cama, disse-me o dono do café, que por sua vez soube pela mulher, que lá vai alimentar o gato quando a dona se ausenta em viagem. É só ela e o malhado de pêlo curto, que persegue os melros no alvor do dia.
Se chovesse, ela regressaria à varanda com pressa, assim como estava, quase sem roupa, segurando as molas nos lábios, tornando-os ainda mais vermelhos e estranhos, abraçada ao que parecia um limão gigante. Nem olharia para uma janela mais abaixo, no ângulo morto do prédio, onde a observo julgando que fumo um cigarro. É hoje que me vou encher de coragem, injectando-a em grandes doses, vou subir um lance de escadas e dizer que a acho deliciosa quando estende a roupa, sempre com molas vermelhas, por ordem de tamanho.

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