cigano
Num tempo em que a memória se esqueceu de botar data, instalaram-se na
pequena vila, nómadas vindos de muito longe. Traziam empilhados os pais,
filhos, a casa e novidades, mais os cães e restantes animais. Foi
precisamente a novidade que proporcionou a indulgência, a terra era
basta mas agreste, havia muito por onde acampar e pouco sobre o que
falar, mas assim que se esgotaram os novos frutos do ano, cresceu o
ódio, brotou nos homens a intolerância, e se uma galinha desaparecia, a
culpa era dos ciganos. Provavelmente até era, mas não havia como o
provar, ao contrário dos cães esganados, os gatunos não deixavam sinais.
Não foi há mais de trinta anos que Maria carregada de esperanças, chamou três vezes pelo filho. O gaiato andava sempre à vara larga pelo silvado atrás da casa, estranhando o silêncio saiu da sombra fresca calcando o portado, acautelou o olhar claro com a palma da mão, segurando com a outra o ventre pesado mas quieto. Era uma criança traquina pela idade, herdara do bisavô um forte temperamento que nunca se diluía no sangue, acompanhando o feitio de acordo com o nome geração após geração. Contudo, também demonstrava uma personalidade sensível e curiosa, dádiva de um amor incondicional que nunca o afastaria muito da mãe, com gestos afáveis e perguntas pouco comuns, entretendo-se horas a fio sozinho no silvado. Naquele dia não foi assim, socorrendo-se dos vizinhos, a vila foi passada a pente fino, mas sem sinal do gaiato.
António voltava ao turno da tarde na fábrica, quando o encarregado o chamou. O desespero arregalava-lhe os olhos, um risco triste na boca nascia, enrugava a testa marcando o rosto com linhas rudes, já por si não muito perfeito. Apoquentado, pegava na mão fria de Maria, enquanto a ambulância gingava estrada fora, ao fim do dia seria pai novamente, muito antes do tempo.
Não foi há mais de trinta anos que Maria carregada de esperanças, chamou três vezes pelo filho. O gaiato andava sempre à vara larga pelo silvado atrás da casa, estranhando o silêncio saiu da sombra fresca calcando o portado, acautelou o olhar claro com a palma da mão, segurando com a outra o ventre pesado mas quieto. Era uma criança traquina pela idade, herdara do bisavô um forte temperamento que nunca se diluía no sangue, acompanhando o feitio de acordo com o nome geração após geração. Contudo, também demonstrava uma personalidade sensível e curiosa, dádiva de um amor incondicional que nunca o afastaria muito da mãe, com gestos afáveis e perguntas pouco comuns, entretendo-se horas a fio sozinho no silvado. Naquele dia não foi assim, socorrendo-se dos vizinhos, a vila foi passada a pente fino, mas sem sinal do gaiato.
António voltava ao turno da tarde na fábrica, quando o encarregado o chamou. O desespero arregalava-lhe os olhos, um risco triste na boca nascia, enrugava a testa marcando o rosto com linhas rudes, já por si não muito perfeito. Apoquentado, pegava na mão fria de Maria, enquanto a ambulância gingava estrada fora, ao fim do dia seria pai novamente, muito antes do tempo.
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