acendalha

Meia hora de espera em Coimbra, um dia quente atípico da estação, não alimente os pombos dizia numa parede… e eles rondavam abutres cinzentos, em volta do banco em ripas já velho. Lavrava suado as cruzadas do jornal de ontem, dobrado a meio sobre o joelho, e ela em blusa diáfana distraindo as massas, agitava um caderno de folhas já gastas.
Tenho fome, reclamou amuada, beiço de menina mal-educada.
Come uma parede, gaguejei distraído… nove letras, treze horizontal, o que serve para acender o lume…
Pousou a mão sobre a cruzada dobrada, sólida na junta que serve o joelho, aproximou-se do auditivo e num sussurro arrepiado disse ao meu ouvido.
Come um homem, é o que se responde, cigano malcriado.
E sem aviso prévio ou brisa que a refreie, da boca escancarada lançou-se a língua húmida, corre a saliva o pescoço, lambendo do lóbulo suspenso até ao vértice provocatório da clavícula. Prendem botões a camisa, perco eu a letra no sinónimo, sentindo a garra afiada fincando a perna, subindo a esquina… e de tão duro que o encontrava, descarado ali no banco, voltava a dizer agora baixinho.
Tenho fome ciganito.

Dentro de momentos vai dar entrada na linha número dois, o comboio com destino…

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