padieira
Oito letras, três horizontal, verga superior de porta ou janela, sobretudo quando é de madeira; face lateral do lagar…
Anda, gatinho maltês, salta cá para a minha cama… dizia ela à janela rompendo o silêncio da madrugada, reino dos melros que pilham os jardins. Carregados os bolsos com laranjas, calças a cair pelos fundilhos, atravessava o muro do vizinho e voltava vencedor ao meio das suas pernas.
Agora sobram laranjas na árvore, espera o fruto maduro cair por terra, sobracem a mim forças e treparia mais uma vez o muro por ela. Olho o dia que nasce pela janela, enquanto dorme profundamente, ninfa nua aterrada no colchão. Sentei-me na poltrona da sala para abrir o quarto dos sonhos e esconder as memórias daquela noite. Era difícil de acreditar que tudo não passava disso mesmo, um sonho ou uma cena de um filme que se viu faz muito tempo no cinema. O carro a voar pela estrada, a chuva que se dissipava à sua passagem corrida por um limpa-vidros gigante, a perseguição e depois o embate, o carro a rodopiar no ar centrifugando os ocupantes. O segundo sujeito cuspido, o primeiro saindo cambaleante em direcção à fuga, fiz tenções de o perseguir, fazê-lo pagar a divida que abrira na minha testa, mas Guinevere gritava, não me deixes…
O barulho da rua entrou nas casas, acordam uma a uma, correm persianas, acendem luzes. Então o céu manda que seja tecido um manto de nevoeiro com que nos cobre a saída, pego nela e desaparecemos pelos empedrados, bairros cinzentos, esquinas vazias. Ao quinto lanço de escadas, esgoto as últimas forças, ela dorme nos meus braços, encosto-me à parede fria. Desde fevereiro que o elevador não funciona, a esta hora também não queria acordar o prédio inteiro. Respiro fundo, já falta pouco, sem o ar frio da noite o cheiro dela rascunha-me o passado na mente, o mesmo perfume aspergido apenas do lado esquerdo.
Anda, gatinho maltês, salta cá para a minha cama… dizia ela à janela rompendo o silêncio da madrugada, reino dos melros que pilham os jardins. Carregados os bolsos com laranjas, calças a cair pelos fundilhos, atravessava o muro do vizinho e voltava vencedor ao meio das suas pernas.
Agora sobram laranjas na árvore, espera o fruto maduro cair por terra, sobracem a mim forças e treparia mais uma vez o muro por ela. Olho o dia que nasce pela janela, enquanto dorme profundamente, ninfa nua aterrada no colchão. Sentei-me na poltrona da sala para abrir o quarto dos sonhos e esconder as memórias daquela noite. Era difícil de acreditar que tudo não passava disso mesmo, um sonho ou uma cena de um filme que se viu faz muito tempo no cinema. O carro a voar pela estrada, a chuva que se dissipava à sua passagem corrida por um limpa-vidros gigante, a perseguição e depois o embate, o carro a rodopiar no ar centrifugando os ocupantes. O segundo sujeito cuspido, o primeiro saindo cambaleante em direcção à fuga, fiz tenções de o perseguir, fazê-lo pagar a divida que abrira na minha testa, mas Guinevere gritava, não me deixes…
O barulho da rua entrou nas casas, acordam uma a uma, correm persianas, acendem luzes. Então o céu manda que seja tecido um manto de nevoeiro com que nos cobre a saída, pego nela e desaparecemos pelos empedrados, bairros cinzentos, esquinas vazias. Ao quinto lanço de escadas, esgoto as últimas forças, ela dorme nos meus braços, encosto-me à parede fria. Desde fevereiro que o elevador não funciona, a esta hora também não queria acordar o prédio inteiro. Respiro fundo, já falta pouco, sem o ar frio da noite o cheiro dela rascunha-me o passado na mente, o mesmo perfume aspergido apenas do lado esquerdo.
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