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O deus da chuva, senhor do raio, do trovão e do relâmpago, tacteou no escuro até conseguir acender o candeeiro que tinha na mesinha. Os olhos precisaram de tempo para se habituarem à claridade, enquanto esquadrinhava todas as paredes em busca da melga que o comia vivo. Nem sinal desse insecto estuporado, fêmea por exclusão de partes, pois só elas necessitam de sangue para alimentar a prole. Na superfície azulada da sua pele, duas elevações inflamadas eram provas mais do que suficientes da sua presença. Levantou-se para colocar um pouco de vinagre e foi aí que reparou na centopeia muito quieta que tinha no tecto, mesmo por cima da cama. Era enorme. Normalmente o deus das intempéries não se deixava intimidar por insectos carnívoros, mas aquele exemplar cinza-amarelado, com pelo menos quinze pares de pernas, causava repulsa. Talvez ela encontrasse a melga e a comesse. Pensou a divindade. Não parecia capaz de fazer mal a uma mosca, ali parada, com antenas de um lado e do outro patas longas...

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