relento

Alicja e Jochen voltaram na segunda muito tarde, terça já estávamos juntos, mas só os quatro, a matar saudades numa esplanada do centro. Izabela traz os olhos tristes no lugar de Marek, ninguém diz nada mas parece que houve um desentendimento com o namorado. Alicja tem como sempre um plano e suplica-me ao ouvido enquanto espero pelas bebidas: por favor Mau-tempo, faz a minha irmãzinha sorrir novamente. São duas cervejas e duas águas, e digo que sim. Da bolsa retira então um embrulho, está excitadíssima, quem a vê julga que vai anunciar ao mundo a cura de todos os males, mas afinal é só uma caixa de rebuçados. Quero recusar a experiência que se segue, mas prometi ajudar a afastar a tristeza que paira sobre Izabela. Divide então na mesa os rebuçados por cor, são dez diferentes, por cada cor há dois sabores, um é normal, o outro intragável. Mas só o sabor os distingue. É obrigatório mastigar e engolir, custe o que custar, explica Alicja com um sorriso delicioso. Jochen anuncia que não vai participar, está à espera de uma chamada importante, coisas de trabalho, assuntos sérios de gente crescida, diz com algum desdém. Mas Alicja não esmorece, a desistência de Jochen não lhe faz qualquer sombra. Ela consegue ter a vontade de um tsunami quando mete uma ideia na cabeça.
Começamos pelos rebuçados verdes, os três em simultâneo trincamos, as caras delas não se alteram, dizem quase em coro: Lima. A mim, que a sorte não me assiste, calha-me o sabor “aparas de relva”. Mas não sei se sabe a relva, parece mais a flores e mofo, tento explicar, é horrível, bebo um bom trago de cerveja. Parecem flores de cemitério. Depois experimentamos o branco, a elas sai o que parece ser coco, a mim “leite estragado”. Dá-me vómitos, preciso de cuspir, mas Izabela agarra-me pelo braço e diz que tenho de comer até ao fim. Tu consegues, diz, anda! O meu sofrimento dá-lhe algum animo, é bela demais para estar triste. Acabo com a cerveja, respiro fundo antes de passarmos ao próximo. Não é unânime mas acabam por decidir que será o azul. O meu é doce, amoras ou assim, a elas sai “pasta de dentes”, dizem que nem é muito mau. Começo a achar que isto de alguma forma está viciado, ou sou eu que não tenho mesmo sorte. Alicja escolhe então o mítico laranja. Os sabores podem ser “pêssego” ou “vómito”, anuncia, com caretas à mistura. Izabela tem sorte, o sabor adocicado e pouco ácido do pêssego dão-lhe um sorriso, Alicja engole o dela o mais rápido possível, é horrível, o meu também, sabe mesmo a vomitado, como se realmente tivesse acabado de vomitar. Ela de seguida enche a boca de água, mas eu não tenho nada que beber, ainda me estico para alcançar o copo de Jochen que está a meio, mas ele atento, rapidamente o posiciona fora do meu alcance. O sabor espalha-se pela língua, é mesmo desagradável, e deve notar-se na minha cara porque faço rir Alicja, que ainda tem a boca cheia de água e não a consegue engolir. E então acaba por borrifar tudo para cima de mim. Izabela quase cai no chão de tanto rir. Jochen simplesmente abana a cabeça, as outras pessoas à voltam fazem o mesmo. Alicja seca-me a cara com um guardanapo. Conseguimos, diz satisfeita. 

eu não sou um molusco, percebes? 


Comentários

  1. Parece que o Jochen cresceu mesmo, ou a Alicja já é terra conquistada e ele já não se esforça por agradar. Sintomático.
    E tu afilhado mailindo quinté, vais continuar a engolir rebuçados intragáveis?

    beijoca da madrinha

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    1. todos os que forem necessários :) nem que seja para arrancar alguns sorrisos e abanares de cabeça
      beijo madrinha

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  2. O que não se faz por uma miúda bonita!!! :)

    Beijocas, Stormy boy :)

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    1. confesso que é quase impossível dizer que não, a qualquer das duas :)
      mas isso é problema das mulheres bonitas... e depois elas nunca dizem que sim :)
      beijos Tutu

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  3. eu faria isso e muito mais por alguns sorrisos :)

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